Em um cenário que celebra a essência do intocável Parque Ibirapuera, Lilly Sarti desfilou ontem sua coleção Outono/Inverno 2025, mergulhando o público na filosofia Wabi-sabi, onde a beleza se encontra nas imperfeições e cicatrizes. A estilista trouxe uma narrativa que explora o conceito de “imperfeito perfeito” de forma singular, criando uma experiência visual que se desdobra entre formas arquitetônicas e elementos que transcendem o efêmero.
A coleção, inspirada no japonismo, apresentou uma cartela de cores sóbria e refinada, ancorada em tons terrosos e nuances de cinza, azul e off-white. As peças exibiram uma maestria de modelagem: shapes volumosos e arredondados se misturaram a cortes que evocam o movimento e a suavidade do quimono, revelando uma silhueta contemporânea e autoral. Em contraste, o balonê e o peplum trouxeram um toque de ousadia ao clássico, transformando peças icônicas dos anos 1980 em criações que refletem a personalidade multifacetada da mulher moderna.
Os tecidos foram selecionados com primor, incluindo jacquards que remetem às gravuras japonesas, ornados com delicadas representações do Monte Fuji e flora nipônica. A organza, leve e translúcida, se destacou com acabamentos inovadores, como o devorê, que confere um jogo entre o visível e o oculto, intensificando a sensação de mistério e profundidade.
Com um olhar atento para a sustentabilidade, a marca priorizou materiais nacionais, ressaltando sua relação com o tempo e com o compromisso ambiental. A coleção também mostrou uma sinergia entre o dia e a noite, onde as sobreposições trouxeram novas leituras de saias e vestidos, explorando o conceito de imperfeição com elegância sutil.
A noite se encerrou com uma ode à feminilidade contemporânea, na qual Lilly Sarti reafirma seu lugar como uma voz poética e rebelde na moda brasileira. Um desfile que não apenas vestiu o corpo, mas também aqueceu a alma dos presentes, proporcionando um vislumbre da moda como uma extensão da própria essência humana.
O desfile de Lilly Sarti não foi apenas um evento de moda; foi uma experiência sensorial que nos convida a enxergar o valor do imperfeito, do inacabado, e do atemporal.
Por: Suzi Freitas, Editora-Chefe