Quando o ex-jogador Raí carregar a tocha olímpica na próxima terça (23), em Versalhes, a 20 quilômetros de Paris, trará consigo três décadas de dedicação à amizade entre Brasil e França, com gols dentro e fora do campo.
A conexão do meio-campista com o país europeu está em alta: seu discurso em defesa da democracia francesa, proferido em 3 de julho, às vésperas do segundo turno das eleições, viralizou um mês após ele concluir seu mestrado na capital, onde desenvolveu um projeto social para o Nordeste brasileiro.
Capitão do São Paulo no início dos anos 1990, período glorioso para o time, Raí foi eleito em 2020 o maior jogador da história do Paris Saint-Germain, time que defendeu de 1993 a 1998.
A Fundação Gol de Letra, que ele criou com o parceiro dos gramados Leonardo, conta com uma representação na França — uma plataforma de divulgação e de captação de recursos no exterior para suas ações sociais.
Há 25 anos, a Gol de Letra promove educação em comunidades socialmente vulneráveis da Vila Albertina, em São Paulo, e do Caju, no Rio de Janeiro.
No início de julho, Raí foi convocado a colaborar na mobilização da frente democrática que impediu a ascensão da ultradireita nas eleições legislativas da França.
Subiu no palanque montado pela coalizão de partidos de esquerda e alertou: “No Brasil, vivemos um pesadelo. Quatro anos de misoginia, homofobia, preconceito, milhares de mortes, desmatamento. Se quisermos mudar a nossa realidade, vamos mudar com uma estratégia, uma nova política, mas os nossos valores fundamentais nunca devem mudar”.
O discurso fez lembrar a participação de seu irmão Sócrates em comício pelas Diretas Já em 1984. Seu pai, Raimundo Vieira, neto de escravos criado no subúrbio de Fortaleza, sempre valorizou o conhecimento. “Você tem noção? Está lendo Molière no original!”, comemorou em 1993, ao saber que o filho estava matriculado num curso de civilização francesa na Sorbonne, logo após chegar a Paris.
Seu Raimundo ficaria orgulhoso: em junho deste ano, Raí finalizou seu mestrado executivo em políticas públicas na Sciences Po, uma das instituições de ciências sociais mais prestigiadas do mundo. Ao ingressar, Raí declarou à Émile Magazine, publicação de ex- alunos da universidade, que seu objetivo era desenvolver uma integração radical entre educação, esporte e cultura: “No Brasil, esporte e escola não interagem, e as atividades artísticas muitas vezes são negligenciadas”.
Seu trabalho de conclusão de curso resultou no projeto Ludicidade, que visa levar cultura e esporte a cidades de até 15 000 habitantes do Nordeste. Mais um golaço do eterno capitão. ■