Em cartaz nos cinemas com A Voz do Silêncio, dois filmes para estrear e dona de teatros que impulsionam novos talentos, Marieta Severo faz da arte seu papel principal
Para saber o que acontece na vida de Marieta Severo, nem adianta procurar nas redes sociais – a atriz não tem Facebook, Twitter ou Instagram. “Sou viciada mesmo em telejornalismo”, diz, enquanto faz a maquiagem para este ensaio, sentada à cabeceira da mesa de jantar de sua casa na Gávea, com a vista generosa do Rio de Janeiro a seus pés. “Também adoro maratonar séries, ver filmes, exposições, peças e leio o tempo todo”, entrega o que as centenas de livros, jornais e revistas espalhados pelos ambientes já haviam me contado. “Tenho muita energia, preciso estar sempre fazendo coisas. Questão de temperamento.” E Marieta não faz pouco. Aos 72 anos (e mais de 50 de carreira), é uma das grandes damas da dramaturgia nacional.
A ausência nas redes não é impedimento para encontrá-la. Para isso, basta uma ida ao cinema. Em cartaz com A Voz do Silêncio (2018), de André Ristum, vencedor de dois Kikitos no último Festival de Gramado (melhor direção e montagem), ela vive a solitária Maria Cláudia, uma mãe que passa seus dias fantasiando sobre o filho que a deixou para trás. “É uma personagem que retrata essas pessoas invisíveis, sem perspectiva, mas que lutam todos os dias para sobreviver.” A telona promete mais notícias da atriz, que acaba de rodar Aos Nossos Filhos, de Maria de Medeiros, cuja estreia está prevista para o ano que vem. “É um filme que confronta duas gerações, uma mulher que participou da luta armada contra o regime militar (meu papel) e sua filha, gay, nascida em 1982”, explica Marieta, que viveu na pele os anos de chumbo da ditadura. Depois de estrelar no início da carreira Roda Viva (1968), musical de Chico Buarque, seu ex-marido, que criticava abertamente o momento político do País, ela teve de se exilar em Roma por cerca de dois anos. “Mergulhei nos depoimentos da época, revivendo o sofrimento dessas pessoas. Justamente nesse momento tão difícil, onde se nega que houve ditadura no Brasil e se incensa a tortura”, reflete.
Sobre o futuro (muito próximo), uma nova história. Na semana seguinte à entrevista, Marieta começaria a filmar Noites de Alface, longa baseado no romance homônimo de Vanessa Barbara, dirigido por Zeca Ferreira, seu sobrinho, ainda sem previsão de estreia. “É sobre um casal, uma cidadezinha, um astral bem mais apaziguante.” Se ela teve um ano bastante atribulado, a “culpa” também se deve à malvada Sophia, seu alter ego em O Outro Lado do Paraíso, novela de Walcyr Carrasco que esteve no ar até maio deste ano na Rede Globo. Pergunto se ela tem uma afinidade especial com os papéis de vilã, afinal, a atriz tem uma lista delas em seu currículo televisivo: antes de Sophia, houve Fanny, de Verdades Secretas (2015), isso sem falar em Alma, de Laços de Família (2000), que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz pela Associação Paulista de Críticos de Arte. “Depois de ter feito a Dona Nenê por 14 anos da minha vida, acho que preciso de outros dez só fazendo vilãs”, me responde sem pestanejar, relembrando aquele que talvez tenha sido seu maior sucesso na tevê, a carismática mãezona da sitcom A Grande Família (2001-2014).