
No Brasil, ser mãe é um ato diário de resistência. É carregar nas costas o peso das responsabilidades, dos olhares e, muitas vezes, dos julgamentos que surgem de onde menos se espera. Recentemente, Aline Rizzo, mãe de três filhos, se viu no centro de uma tempestade de críticas e ameaças, após um simples voo se transformar em cenário de exposição pública e ataque virtual.

Tudo começou com o embarque em um voo da Gol Linhas Aéreas. Aline, que é mãe de Gabriel, um jovem cadeirante de 23 anos, e de outras duas crianças, estava lidando com os desafios comuns de viajar com a família, incluindo a alocação de Gabriel em um assento acessível. Durante o processo de acomodação, Arthur, seu filho de 4 anos, foi guiado pela avó, que não tinha familiaridade com as normas de viagem, para um assento na janela que não era seu. Uma situação corriqueira e sem maiores consequências – até que um mal-entendido escalou para uma situação devastadora.

Ao perceber o erro, Aline imediatamente pediu desculpas à passageira Jeniffer Castro, dona do assento, e realocou Arthur ao seu lado. Contudo, Arthur, ainda na inocência de seus 4 anos, não compreendeu a situação e começou a chorar, pedindo para voltar ao lugar onde inicialmente havia sentado. Apesar de os passageiros ao redor oferecerem janelas para acalmar a criança, Jeniffer preferiu manter seu lugar, um direito que Aline respeitou plenamente.
O ponto crítico da história aconteceu quando outra passageira, Eluciana Cardoso, decidiu filmar Jeniffer e publicar o vídeo nas redes sociais, alegando que uma mãe estaria pressionando a passageira a ceder o assento. A filmagem viralizou rapidamente, com uma narrativa completamente distorcida: a de que Aline teria “agredido e filmado Jeniffer” por não ceder o lugar. A realidade, porém, é muito diferente.
Fato é que a Aline não realizou a filmagem que viralizou, ou incentivou a exposição, nem pediu o assento de Jeniffer. Ela estava focada em acalmar Arthur, que, por ser uma criança pequena, não compreendeu por que não podia ficar no assento ao lado da avó. Enquanto isso, Aline ainda precisava lidar com a logística de acomodar Gabriel, que enfrentou transtornos para ser alocado no assento adequado, em um voo que já estava completamente lotado.
“Meu único objetivo era acalmar meu filho. Não xinguei, não filmei, mas fui atacada como se tivesse cometido um crime. Onde está o direito de ser mãe sem ser massacrada?”, desabafou Aline em entrevista.
O que aconteceu com Aline é um reflexo de como a sociedade ainda é implacável com as mulheres, especialmente com mães. Aline não só foi injustamente acusada de um comportamento que nunca teve, como também foi alvo de ameaças de morte, enquanto sua família enfrentava o peso emocional dessa exposição.
Como mãe, Aline dedicou toda a sua vida aos seus filhos. Aos 18 anos, teve Gabriel, que nasceu prematuro extremo e com paralisia cerebral. Desde então, ela abriu mão de estudar e trabalhar para se dedicar integralmente à criação e tratamento de Gabriel, além de cuidar de seus outros filhos. “O que me fere é justamente ser atacada naquilo em que sempre me dediquei: ser mãe. Sempre fui admirada pela forma como eduquei meus filhos, por abrir mão de tanto para estar com eles.”
O incidente no voo expôs uma das faces mais cruéis da sociedade moderna: o julgamento rápido e a disseminação de ódio baseados em informações incompletas. Um vídeo editado e descontextualizado foi suficiente para que milhares de pessoas atacassem não apenas Aline, mas também seus filhos.
Enquanto sociedade, precisamos refletir sobre o papel das redes sociais na amplificação de narrativas distorcidas e na perpetuação de discursos de ódio. Casos como o de Aline Rizzo escancaram a falta de empatia e a necessidade de pensar antes de julgar.
No final, Aline é mais do que uma mãe de um menino de 4 anos. Ela é uma mulher que dedicou sua vida à sua família, uma esposa há 23 anos, uma cuidadora e uma batalhadora que merece respeito, compreensão e, acima de tudo, a liberdade de ser mãe sem ser julgada por um momento isolado.
Que esta história nos sirva de aprendizado: antes de apontar o dedo, é necessário compreender o todo. Ser mãe já é um trabalho árduo; ser mãe em uma sociedade crítica é um desafio ainda maior.
@aline.rizzo
Por Suzi Freitas, Editora-Chefe