Lula quer fazer história na sua próxima caravana internacional rumo ao oriente, para a terra de Xi Jinping. Segue como um verdadeiro mercador de negócios no modelo milenar típico dos caixeiros viajantes da Companhia das Índias. Leva uma comitiva recorde — com nada menos que 240 empresários, além de agregados, ministros estratégicos e políticos — para vender o que o Brasil tem de melhor no seu entender. Quer sair de lá com acordos e contratos concretos. Nada de meras formalidades e mesuras como ocorreu recentemente no encontro com o norte-americano Joe Biden, nos EUA. Espera ao menos 20 propostas fechadas, dentre elas a de um almejado satélite para monitorar desmatamentos. Não deve ter problemas nesse sentido. O mundo inteiro está atento e interessado em ajudar nessa causa brasileira e os chineses não vão se furtar a aproveitar a onda e a participar da empreitada. O CBERS 6 será o primeiro satélite desenvolvido conjuntamente entre as duas nações com um radar que irá permitir o monitoramento de florestas, mesmo com nuvens. É empreitada na casa dos US$ 300 milhões. Mas tem muito mais pela frente. Há uma lista de memorandos de crédito para Saúde, Educação, Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia, Finanças, além de protocolos fitossanitários, sem contar as gigantescas vendas de mercadorias, especialmente do Agronegócio. Não para menos, a bancada do campo é a mais robusta que segue ao lado do mandatário. Está pagando as próprias despesas nessa cruzada — sem custo para o erário. O ponto mais relevante no reencontro de Brasil e China é justamente a costura de uma aproximação que esteve comprometida no governo anterior. O ex-mandatário Bolsonaro fez questão de desprezar e até atacar o parceiro em outros tempos, desconsiderando a condição de segundo maior comprador dos produtos nacionais. A China se ressentiu desse distanciamento recente e havia tirado o pé do acelerador dos investimentos por aqui. Voltou com tudo. Mesmo grandes montadoras de automóveis estão reativando e incrementando suas inversões locais. A China, há muito tempo, virou motor do mundo e o Brasil tem bastante a ganhar no aceno que faz agora. É o verdadeiro “negócio da China” incrementar os entendimentos nessa via de comércio. O aprofundamento de uma parceria estratégica global pode, por tabela, abrir novos campos e oportunidades ao Brasil lá fora. A diversificação da pauta nesse corredor bilateral também projeta-se como meta. No embate entre americanos e chineses, fabricantes de inúmeros manufaturados estão amargando prejuízos e saíram em busca de novas praças para instalar suas unidades de produção. Portentos da China, para não perderem encomendas dos EUA passaram, por exemplo, a produzir direto no México e um movimento semelhante pode ser feito em direção ao Brasil, que tem um potencial de consumo grande e facilmente abrigaria essas unidades industriais. O governo Lula mira nessas possibilidades e oportunidades. Existem ainda perspectivas nas áreas cultural e de esportes. O leque de alternativas para entendimentos é amplo. Do tamanho do otimismo que a delegação carrega. E as conversas ocorrem em um momento promissor, no qual o Brasil busca um protagonismo no concerto das nações. Lula quer falar com Xi Jinping não apenas das parcerias como também de uma liderança brasileira nas grandes questões multilaterais. A ambição do petista é até mesmo atuar como interlocutor comandando os entendimentos para a pacificação de russos e ucranianos. E a China pode ajudar nessa pretensão. Resta saber se Jinping cederá tanto espaço ao colega. Dentro de alguns dias, todos saberão. O mundo inteiro está de olho nesse encontro e Lula sabe da importância de se projetar ainda mais globalmente a partir da agenda que irá cumprir com a sua caravana de mercador.
Carlos José Marques – sexta-feira