Ainda sob efeito do caso de um adolescente de 13 anos que matou uma professora e feriu outras cinco pessoas dentro de uma escola de São Paulono dia 27 de março, o Brasil assistiu a um novo ataque* em ambiente escolar. Quatro crianças foram mortas na manhã de quarta-feira, 5, na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, por um homem de 25 anos. As vítimas são três meninos e uma menina, de 4 a 7 anos.
O enterro das quatro crianças assassinadas ocorre nesta quinta-feira, 6, em horários que vão das 10h até as 14h. Três vítimas são veladas em cemitério no centro da cidade, enquanto uma quarta será sepultada na região de Salto Norte. Dezenas de moradores da cidade foram ao local para acompanhar o início do velório na noite de quarta. O clima era de desolação.
Na noite anterior, dezenas de moradores de Blumenau se reuniram em frente à creche onde o atentado ocorreu para prestar homenagem às vítimas. Velas foram acesas ao lado da porta de entrada.
O que se sabe sobre o ataque?
Segundo relatos, as crianças foram atingidas enquanto brincavam na área externa, por volta das 9 horas da manhã. “Ela relatou que viu o moço de capacete rosa pular o muro com um martelo e uma faca na mão e chamou a professora”, disse o vidraceiro Henrique Araújo, de 31 anos, pai de uma menina de 4 anos, que estuda na creche e estava no pátio com os amiguinhos no momento em que o homem pulou o muro e invadiu a escolinha. O “martelo” a que a criança se referia foi a machadinha usada pelo agressor para golpear os alunos.
A menina, afirmou o pai, contou ter visto o homem bater com a arma na cabeça de um coleguinha, Enzo, que acabou morrendo. “Ela só chora em casa. Para essas crianças voltarem para a escola vai ser complicado.”
Ainda de acordo com os bombeiros, havia 40 crianças na creche e o agressor, que pulou o muro, atingiu as vítimas de forma aleatória. “O autor pulou o muro armado com uma arma branca, do tipo machadinha, e desferiu golpes nas crianças, especialmente na região da cabeça, o que levou ao óbito dessas crianças”, descreveu o tenente-coronel Diogo de Souza Clarindo, comandante do Batalhão de Bombeiros Militar em Blumenau.
Uma professora que preferiu não se identificar contou que as crianças brincavam em um parque, que fica próximo ao muro da creche, no momento do ataque. Os pais de uma das vítimas chegaram à escola chorando muito, receberam abraços e foram levados ao local onde se concentravam os bombeiros. No fim da manhã, eles saíram. Um dos pais carregava o material escolar. “Só sobrou a mochila do meu filho”, afirmou ele, que não foi identificado.
Quem são as vítimas?
As vítimas são três meninos e uma menina, de 4 a 7 anos.
Foram identificadas como:
- Bernardo Cunha Machado, de 5 anos
- Bernardo Pabest da Cunha, de 4 anos
- Larissa Maia Toldo, de 7 anos
- Enzo Marchesin, de 4 anos
Outras crianças ficaram feridas?
Quatro crianças – duas meninas de 5 anos e dois meninos de 5 e 3 anos – foram levadas para o Hospital Santo Antônio, passaram por cirurgia e têm quadro estável.
“Os pacientes que foram atendidos na instituição foram submetidos a tratamento cirúrgico sob anestesia geral e encontram-se estáveis em acompanhamento da equipe”, disse o hospital em nota.
Uma quinta criança com ferimentos leves foi levada pela mãe para o Hospital Santa Isabel, de acordo com a prefeitura.
Quantas crianças estavam na creche no momento do ataque?
A creche Cantinho Bom Pastor atende crianças desde o berçário até os 12 anos, incluindo o contraturno escolar. Ainda não há previsão de reabertura. No momento do ataque, 40 crianças estavam no local, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
Em nota de pesar, a direção da creche afirmou estar desolada. “Estamos desolados com a tragédia ocorrida no dia de hoje no nosso ambiente escolar, sofrendo terrivelmente e sentindo as dores que afetam cada criança, familiar, amigo. Ainda estamos tentando entender o ocorrido, que atinge o que nos é mais sagrado: a integridade de nossas crianças, que sempre foram aqui recebidas com amor e carinho”, disse o texto.
O que se sabe sobre o autor do crime?
O agressor, de 25 anos, levava um machadinha e, após fugir do local do crime, se apresentou ao 10° Batalhão de Polícia Militar, onde foi preso e encaminhado à Polícia Civil. O autor do crime se manteve calado.
Ele já tinha quatro passagens pela polícia. Em 2021, esfaqueou o padastro e, em dezembro passado, quebrou a porta da casa da vítima e esfaqueou um cão do local. Em 2016, foi detido pelo envolvimento em uma briga dentro de uma casa noturna e, em 2022, estava em posse de cocaína.
“Ele teria praticado as ações em crianças em princípio ali aleatoriamente (sem um alvo específico). Quando percebeu que as professoras começaram a defender as crianças, chamar as crianças para dentro, teria pulado o muro novamente e embarcado na moto e se apresentou na guarda do quartel”, disse o comandante da Polícia Militar, Márcio Alberto Filippi.
O que é preciso esclarecer?
O homem responderá por quatro homicídios triplamente qualificados e quatro tentativas de homicídio triplamente qualificados. O delegado destacou que o ato foi “isolado” e que não há indícios de que o ato foi coordenado por outros indivíduos por meio de redes sociais, jogos ou outras plataformas virtuais.
Durante a manhã do dia da tragédia, boatos e fake news se espalharam por Blumenau e outros municípios da região, porém outros ataques não foram registrados nesta quarta.
De acordo com o delegado, a investigação fará a quebra do sigilo eletrônico e telemático do celular e equipamentos do autor do ataque, que será interrogado por diferentes especialistas.
Além disso, uma psicóloga policial especializada irá traçar o perfil psicológico do autor do ataque. “Vamos fazer uma análise do perfil psicológico desse indivíduo, para traçar padrões de comportamento”, explicou o delegado.
Segundo o policial, também será realizado um levantamento sobre vulnerabilidades de escolas de Santa Catarina. “Desde a semana passada, estávamos orquestrando um plano de contingência para evitar que aconteça (casos do tipo).”
Ainda não há informações sobre o que levou o homem a invadir a creche Cantinho Bom Pastor e atacar as crianças. A polícia também investiga se o ataque foi premeditado e se o criminoso contou com ajuda de outras pessoas.Redação