
Thais Carla sempre foi sinônimo de representatividade. Dançarina talentosa, influenciadora digital poderosa e símbolo do movimento body positive no Brasil, ela construiu sua trajetória pública defendendo com unhas e dentes que corpos gordos também são belos, ativos e merecedores de respeito. Mas agora, ao anunciar que se submeteu a uma cirurgia bariátrica após perder 30kg naturalmente, Thais virou alvo de uma das maiores controvérsias da internet em 2025 — levantando questionamentos sobre coerência, saúde e a verdadeira liberdade de escolha.
A cirurgia, realizada no fim de abril em Salvador, foi revelada por ela mesma nas redes sociais. Em um vídeo emocionado, Thais afirmou que “não precisava mudar, mas quis”. Justificou sua decisão pelo desejo de ter mais energia, brincar com as filhas e retomar a dança com mais intensidade. A fala, apesar de legítima, acendeu o estopim de um debate que já fervilhava nos bastidores: quando uma defensora da aceitação corporal radical opta por um procedimento com fins estéticos e de saúde, estaria ela traindo sua própria militância?
Durante anos, Thais defendeu que “saúde não tem peso” e que gordos não precisam emagrecer para serem felizes ou saudáveis. Participou de campanhas, deu entrevistas, dançou nos palcos da TV e conquistou uma legião de seguidores justamente por romper padrões. Mas agora, parte dessa mesma audiência se sente traída.
Nas redes sociais, a polarização foi instantânea. De um lado, aplausos de quem vê na decisão um ato de coragem e de amor-próprio. Do outro, críticas ferozes que a acusam de reforçar o sistema gordofóbico ao ceder aos mesmos padrões que sempre combateu.
O que poucos consideram é a complexidade de se carregar, todos os dias, a expectativa de ser símbolo de uma causa. Thais Carla não é apenas uma mulher com um corpo gordo — ela foi transformada num ícone. E com isso, sua autonomia sobre o próprio corpo passou a ser constantemente julgada.
“Me libertei do peso da bandeira que me colocaram”, escreveu em uma postagem. “Minha causa continua sendo a autoestima, mas agora ela começa em mim.”
A decisão de Thais Carla nos obriga a revisitar os limites entre militância e individualidade. Entre discurso e realidade. Entre o corpo como território político e o corpo como casa pessoal.
Sua jornada, repleta de curvas — físicas e simbólicas — escancara o quanto ainda somos aprisionados a extremos: ou se aceita plenamente o corpo gordo e rejeita qualquer tentativa de mudança, ou se busca emagrecer a qualquer custo, demonizando o sobrepeso. Não há espaço, ainda, para as complexidades humanas — e, sobretudo, femininas — que vivem entre esses extremos.
Thais Carla rompeu um paradigma: não o da aceitação, mas o da perfeição ideológica.
E talvez seja justamente aí que reside sua maior revolução.
Por: Redação da Gazeta