Os jornais franceses desta segunda-feira (8) se interessam pelas eleições na Turquia, a seis dias da realização da votação. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tenta se reeleger, mas graças à coalizão de seis partidos, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu está quatro pontos à frente nas pesquisas de intenção de voto.
“Erdogan não é mais inabalável” é o título de uma matéria do diário Le Parisien, que afirma que o destino do presidente turco, candidato à reeleição, é incerto. Diante dele, Kiliçdaroglu, do Partido Democrático dos Povos (HDP), de esquerda e pró-curdo, se apresenta como o líder de uma nova fase no país e atrai o interesse do povo.
Os partidários de Erdogan estão preocupados, afirma o jornal, destacando que, após vinte anos na liderança do país, o chefe de Estado está fragilizado. “Inflação a mais de 50%, libra turca no nível mais baixo de sua história, cerca de 50 mil mortos nos terremotos de fevereiro”: a matéria destaca alguns dos problemas que o partido no poder, o Justiça e Desenvolvimento (AKP), pena para lidar e que levam a oposição a atrair os eleitores.
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Le Parisien ressalta que no sábado (6), milhares de cidadãos se reuniram em Istambul para um comício do candidato opositor, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu, na reta final de uma campanha complicada para Erdogan. No último 26 de abril o presidente turco sofreu um mal-estar ao vivo durante um programa na TV e teve que sair de cena, segundo sua equipe, devido a uma “gripe intestinal”. O líder só reapareceu em público dias depois, pálido e com uma expressão abatida, durante o Salão Aeronáutico de Istambul.
Chances da oposição
Especialistas entrevistados pelo diário afirmam que essa é a primeira vez que a oposição tem chances de vencer as eleições na Turquia. Uma coalizão de seis partidos foi organizada para tentar levar Kiliçdaroglu ao poder. O social-democrata está a quatro pontos a frente de Erdogan nas pesquisas de intenção de voto. Apelidado de “Gandhi turco”, o candidato tem um projeto de governo mais moderno, tolerante e menos agressivo que o atual.
No entanto, Erdogan ainda é extremamente popular. O site do jornal Le Monde destaca o comício realizado por Erdogan neste domingo em Istambul, onde “apostou em um discurso violento e fez a multidão vaiar seus rivais”. Segundo o diário, milhares de pessoas foram assistir ao evento, no qual o presidente insistiu em “fórmulas fáceis e às vezes confusas”, afirmando que Kiliçdaroglu é ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e atacando a cobertura da imprensa internacional, crítica a seu regime.
Diante do reforço do discurso autoritário de Erdogan, o jornal Le Figaro destaca a mobilização dos cidadãos turcos para evitar fraudes durante a eleição. Uma repórter do diário acompanha o trabalho da ONG Oy Ve Otesi (Votar e Além, em português), que realiza encontros para a educação política dos cidadãos pelo país e recruta voluntários para atuarem como observadores na votação de 14 de maio.
Afinal, diante de um clima deletério, em um país que a oposição é frequentemente ameaçada e a imprensa independente é censurada, o risco de fraude preocupa parte do eleitorado. Segundo o diário, após denúncias de irregularidades nas últimas eleições, a população quer um processo limpo. Por isso, milhares de observadores acompanharão o bom funcionamento das 195 mil urnas em toda a Turquia para garantir a segurança do processo eleitoral, conclui o jornal Le Figaro. RFI – Há 2 h